10 de setembro de 2014

O que fica daquilo que fomos

Há uns dias recebi uma notícia que por mais remota que fosse a certeza, ouvi-la a alto e bom som fez soar um gemido de dor aqui por dentro. 


Quando somos jovens, nos nossos vinte e poucos, achamos que temos sempre força e sensatez para tomar todas aquelas decisões relativas ao nosso circulo de amigos e vivências que queremos ou não para nós em determinada altura. Somos governados por um orgulho monstro que muitas vezes surge disfarçado de um outro grupo de amigos que nos suporta as loucuras e nos proporciona a falsa sensação de que aquelas pessoas de quem estamos a abdicar não nos interessará mais à frente. Sentimos-nos os senhores da nossa vontade, porque temos tudo, amigos novos (ou antigos que voltaram à cena), um trabalho bem sucedido e demasiada boa disposição para desperdiçar com discussões parvas e acusações. Esquecemos o quão bem já nos demos com aquela pessoa de quem nos estamos a afastar e do quão nossa ela já foi. E assim seguimos durante alguns anos, a criar experiências e lembranças novas que vão a pouco e pouco deturpando e sobrepondo as histórias e vivências de um tempo antigo. O tempo passa de tal forma que algumas dessas pessoas passam a ser apenas personagens de um conto, o conto do tempo que já lá foi. Até que um dia, do nada, ouvimos que aquela pessoa que outrora fora a nossa pessoa vai dar mais um passo em frente na sua vida. Um daqueles momentos que todos os amigos idealizam e que todos querem fazer parte. E é aqui que soa o alarme...e damos por nós a entrar numa espiral do tempo que nos leva até ás memórias que foram empurradas para o fundo da mente. De repente vemos-nos lá novamente, a rir pelas mesmas coisas, a partilhar o mais e o menos importante do dia, a sermos unha e carne, a sermos a dupla inseparável N&P...E eis que chega a dor. A dor de saber que tudo mudou, que nós mudámos, e que eu não farei parte deste momento que muitas das vezes idealizamos juntas. Dói, dói muito...dói tanto que hoje contesto o meu orgulho e a minha decisão de te manter longe para não me magoar mais. Hoje arrependo-me de não ter lutado mais por nós, de não te ter deixado voltar para a minha vida, apesar de todas as tuas tentativas. Hoje desejava voltar até aquela conversa, abraçar-te enquanto choravas e dizer-te que estaria sempre do teu lado; que tudo aquilo não tinha passado de um momento mau e que voltaríamos a ser o que sempre fomos ou quem sabe ainda melhores. Mas já não vou a tempo, pois já te cansaste de esperar e agora também tu me empurraste para o baú das recordações. 
E é isto que fica daquilo que fomos, arrependimento do orgulho, tristeza de se perder alguém, dor desse alguém ter sido a nossa melhor amiga. 

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